Defensores do Relativismo
A alcunha de relativismo linguístico (ou, ainda, de relatividade linguística, implicando, nesse caso, variações importantes na forma como o termo é compreendido e empregado) tem sido utilizada na literatura para designar um conjunto de teorias filosóficas e científicas sobre a natureza do conhecimento humano que associam, de modo mais ou menos determinístico, o contato dos indivíduos com a realidade à língua que falam, à cultura em que estão inseridos e à própria estrutura cognitiva da espécie.
Defensores do relativismo linguístico assumem que, grosso modo, a língua natural e a cultura de uma comunidade específica funcionam como uma espécie de calibrador para aqueles que delas partilhem, de modo que pertencer a grupos de falantes cujas línguas e cujas características culturais sejam distintas significa, necessariamente, apresentar categorização distinta da realidade. Versões mais radicais do relativismo linguístico, como a que é conhecida como Hipótese Sapir-Whorf, sequer consideram que o mundo apresente estrutura; de acordo com essa hipótese, toda e qualquer categorização do mundo descenderia diretamente das línguas faladas pelos indivíduos.
Afirmar que o acesso à realidade pelos indivíduos é, em algum nível, mediado margeia a interpretação de que a visão de mundo de grupos de falantes apartados seja mutuamente ininteligível e, além disso, remete ao debate milenar entre racionalistas e empiristas sobre a origem dos conhecimentos humanos (Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Kant, Descartes, Hume e Quine, dentre muitos outros filósofos, dedicaram parte considerável de sua obra a tais questões). Em última instância, as teorias relativísticas esvaziam de sentido as tentativas de se definir o que seja uma realidade objetiva, posto que, sempre conduzidos por uma perspectiva parcial do mundo, os indivíduos não tem como recorrer a ela senão de forma indireta.
Gonçalves (2008: 6) em sua tese de doutoramento, que é quase totalmente dedicada à historiografia do relativismo linguístico, demarca os séculos XVIII e XIX como sendo de suma importância para o estabelecimento desse termo. A obra de Wilhelm von Humboldt é, segundo esse pesquisador, fundamental para as futuras contribuições das três gerações de famosos etnolinguistas norte-americanos, Fraz Boas, Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf, e dos cientistas cognitivos conhecidos como neo-whorfianos, cujo interesse é verificar, a partir de rigorosos processos de testagem, a validade das propostas relativísticas implicadas na Hipótese Sapir-Whorf.
Ressalve-se aqui, à semelhança de como Gonçalves procede, que a história do relativismo linguístico pode ser rastreada até a Grécia do período clássico, em que o tema pode ser abstraído, pelo menos, da obra de Protágoras, e percorre toda a trajetória da filosofia e da ciência ocidentais; contudo, por uma opção metodológica que entrevê maior clareza e concisão para o tema abordado, pretende-se tratá-lo a partir do século de Humboldt em diante, fazendo, nos pontos em que se fizerem necessárias, as devidas menções às obras de pensadores mais antigos.
Conforme foi mencionado no último parágrafo da seção anterior, encontram-se ecos do relativismo linguístico já na Grécia do período clássico, há mais de dois mil anos, mas é a partir do século XIX, no seio da revolução científica que culminaria, pouco tempo depois, no estabelecimento da Linguística, que o tema passou a despertar maior interesse. Atribui-se a Wilhelm von Humboldt, diplomata, filósofo e estudioso de línguas prussiano, a revitalização do relativismo linguístico nesse século e no seguinte.
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