A Hipótese Sapir-Whorf



Embora a delimitação moderna do relativismo linguístico parta das contribuições de Humboldt, sua consolidação somente foi possível devido a uma linhagem de etnólogos e de linguistas norte-americanos cujo interesse pelos povos nativos do continente os levou a perceber o flagrante processo de extinção pelos quais suas línguas passavam. Como tentativa de preservar as que ainda eram faladas à época, esses cientistas dedicaram-se à tarefa de catalogá-las e perceberam que a tradição gramatical das línguas indo-europeias parecia pouco eficaz nesse processo. Puseram, então, à prova um pensamento muito antigo, que esteve na constituição de muitas descrições gramaticais gregas, latinas e de outras línguas europeias: as categorias gramaticais seriam, realmente, universais?

Boas, Sapir e Whorf criam que não eram, já que mais de uma das línguas nativas do território americano não apresentavam alguma das categorias presentes nas gramáticas europeias; em alguns casos, atestava-se o contrário: existiam, também, categorias gramaticais nas línguas nativas que eram abarcadas pelas línguas europeias. O próximo passo pareceu-lhes óbvio: o estudo de cada língua humana e, consequentemente, de sua respectiva cultura devia fechar-se em si mesmo; nenhum povo, nenhuma língua e nenhuma cultura deveriam ser perspectivados por outro de mesma espécie, haja vista que a realidade não poderia ser alcançada objetiva, mas apenas construída com o auxílio de tais objetos culturais.

Boas, professor de Sapir, e Sapir, professor de Whorf, apesar de este último ter seu nome citado na hipótese de relativismo linguístico mais conhecida, contribuíram indiretamente para sua consolidação; é Whorf, o último dessa linhagem intelectual, quem dá a hipótese a cara pela qual se tornou conhecida na literatura. A hipótese, como a de Humboldt, assume que a língua e a cultura de uma comunidade influenciam o modo como os indivíduos categorizam a realidade e se baseia em duas premissas: (1) a de que as línguas diferem significativamente em suas interpretações da experiência humana, tanto no que selecionam para representação quanto na maneira como a organizam; e (2) a de que essas interpretações da experiência influenciam o pensamento.

Por adotar uma forma de perspectivação da linguagem e da percepção, o relativismo linguístico se contrapõe diretamente a visões teóricas universalistas, como a gerativista, que supõem que parte das habilidades e dos conhecimentos humanos é de base inata: que ambas as posturas protagonizam é a opção ou de um viés racionalista ou de um viés empirista.

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