Livre Arbítrio
Livre-Arbítrio e Livre Agência
por Ernest C. Reisinger
Nos últimos dois capítulos temos considerado o livre-arbítrio e o quádruplo estado do homem. Um breve sumário será útil a medida que continuarmos:
1. O homem, em seu estado de inocência, tinha liberdade e poder para desejar e fazer o que era bom e agradável a Deus; mas aquele estado era mutável, ou sujeito à mudança, de forma que o homem era capaz de cair dele.
2. O homem, por sua queda num estado de pecado, perdeu inteiramente a capacidade de desejar qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; portanto, como um homem natural, sendo totalmente adverso àquele bem, e morto em pecado, ele não é capaz, por sua própria força, de se converter e preparar para salvação.
3. Quando Deus converte um pecador, e o translada para o estado de graça, Ele o livra de sua escravidão natural ao pecado, e por Sua graça somente o capacita livremente a desejar e fazer o que é espiritualmente bom; todavia, em razão de sua corrupção remanescente, ele também desejar o que é mal.
4. A vontade de homem é feita perfeita e imutavelmente livre para fazer o bem somente no estado de glória somente. Qualquer estudo da vontade do homem é incompleto sem alguma explicação da diferença entre livre-arbítrio e livre agência. Estou usado a palavra livre significando “independente, soberana, autônoma”, isto é, “não sujeita ao governo ou controle de outro”.
Um agente é “alguém age, realiza um ato, ou tem poder para agir – uma força em movimento”.
O homem é um agente moral livre, mas ele não tem um livre-arbítrio. O homem é somente livre para agir de acordo com sua natureza, e o mesmo nasce com uma natureza pecaminosa (veja Salmos 51:5);
Alguém não perseguiu muito o estudo do livre-arbítrio e da livre agência até que ele dê de frente com uma aparente contradição (note bem, eu disse “aparente”). Devemos, com toda candidez, reconhecer esta aparente contradição. Ela merece algumas sérias e pensadas considerações. Por exemplo, devemos falar sobre os mandamentos de Deus e a inabilidade do homem – a soberania de Deus e a responsabilidade do homem.
Os Mandamentos de Deus e a Inabilidade do Homem
A ordem do evangelho – “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” – é endereçada pela autoridade divina a toda criatura e, portanto, é o dever de todo homem a obedecer. Há alguns que negam isto sob o fundamento de que o homem não tem a capacidade espiritual de crer em Jesus. Contudo, é totalmente um erro imaginar que a medida da capacidade moral do pecador é a medida de seu dever.
Há muitas coisas que o homem deve fazer, as quais agora ele não tem o poder moral e espiritual (embora não o físico) para fazer. Um homem deve ser casto; mas se ele tem sido por muito tempo tão imoral que não possa reprimir suas paixões, ele não está, portanto, livre da obrigação. É o dever de um devedor pagar as suas dívidas; mas se ele tem sido tão perdulário que trouxe a si mesmo a uma pobreza sem esperança, ele não está exonerado de suas dívidas por causa de sua inabilidade de pagar.
Todo homem deve crer no que é verdadeiro, mas se sua mente se tornou tão depravada que ele ama a mentira e não deseja receber a verdade, então, está ele escusado?
Se a lei de Deus tivesse que ser rebaixada de acordo com a condição moral dos pecadores, teríamos uma lei graduada por uma tabela variável para se adaptar aos graus da pecaminosidade humana. De fato, o pior homem deveria estar sob a menor lei e tornar-se, conseqüentemente, o menos culpado. Os requerimentos de Deus seriam de uma quantidade variável, e, na verdade, não estaríamos debaixo de regra alguma.
O mandamento de Cristo permanece bom, não obstante quão maus os homens possam ser; e quando Ele ordena que todos os homens em todo o lugar se arrependam, eles são requeridos a se arrependerem, tanto se sua pecaminosidade torna impossível para eles agir voluntariamente assim, ou não. Em todo caso, é o dever do homem fazer o que Deus o ordena.
Mas, alguém pode perguntar, como pode uma pessoa ser um agente livre e responsável se suas ações foram pré-ordenadas desde a eternidade? Novamente, um agente livre e responsável significa uma pessoa inteligente que age com autodeterminação racional. Pré-ordenação significa que desde a eternidade passada Deus fez certo o curso real dos eventos que ocorrem na vida de cada pessoa e no reino da natureza.
É importante notar de início que a verdadeira solução desta questão difícil com respeito à soberania de Deus e a liberdade do homem, não deve ser encontrada na negação da soberania de Deus; nem deve ser encontrada na negação da responsabilidade do homem. O mesmo Deus que ordenou os eventos, ordenou a liberdade e a responsabilidade humana no meio destes eventos. A Bíblia ensina que da mesma forma com é importante afirmar a verdadeira validade dos agentes secundários (homem), é importante afirmar a validade última da causa final (Deus).
Alguém pode prontamente ver que temos como solução o fatalismo por um lado, ou o plano e propósito inteligente de um Deus todo-poderoso e pessoal, do outro. A Bíblia claramente ensina que Deus tem um plano e Ele tem a sabedoria e o poder para executar esse plano.
O Pelagianismo nega a depravação humana, a necessidade da graça eficaz e exalta a vontade humana acima da vontade divina. Os Pelagianos não crêem na imputação do pecado de Adão. Negando a pecaminosidade do homem, o Pelagianismo exalta a vontade de homem e abre a porta da crença Arminiana de que o homem livremente, por si mesmo, escolhe a Deus. Portanto, o Pelagianismo é a mão do Arminianismo; de fato, o “Arminianismo” pode se encontrado doze séculos antes de Arminius nascer.
Uma citação da Exposição da Confissão de Fé de Westminster, de Robert Shaw, colocará a visão Arminiana e Calvinista sobre o livre-arbítrio em perspectiva:
A decisão da maioria dos pontos entre controvérsia, entre Calvinistas e Arminianos, como o Presidente Edwards observou, depende da determinação da questão – Em que consiste aquela liberdade da vontade que é requerida pela agência moral?
De acordo com os Arminianos três coisas pertencem a liberdade da vontade: - 1. Que a vontade tem um poder auto-determinante , ou uma certa soberania sobre si mesma, e sobre seus próprios atos, pelo qual ela determina suas próprias volições. 2. Um estado de indiferença, ou de equilíbrio, segundo o qual a vontade não possui qualquer propensão antecedente, e inteiramente livre de qualquer inclinação atrativa para um lado ou outro. 3. Que a volição, ou atos da vontade, são contingentes, não somente em oposição a toda restrição, mas a toda necessidade, ou a qualquer ligação fixa e certa com algum prévio fundamento ou razão de sua existência. Os Calvinistas, por outro lado, sustentam que um poder na vontade para determinar suas próprias determinações é desprovido de significado, ou se suposto, é contrário aos primeiros princípios da filosofia: algo acontecer sem uma causa; a idéia da alma exercer uma ação de escolha de preferência, enquanto, ao mesmo tempo, a vontade está em perfeito equilíbrio, ou estado de indiferença, está repleta de absurdos e auto-contradições; e, como nada pode acontecer sem uma causa, os atos da vontade nunca são contingente, ou sem necessidade – entendimento por necessidade, uma necessidade de conseqüência, ou uma ligação infalível com algo precedente.
De acordo com os Calvinistas, a liberdade de um agente moral consiste no poder de agir de acordo com sua escolha; e aqueles ações são livres quando são realizadas sem qualquer compulsão ou restrição externa, em conseqüência da determinação de sua própria mente. “A necessidade do desejo e da atuação do homem em conformidade com suas apreensões e disposição, é, na opinião deles, completamente consistente com todas a liberdade que pode pertencer a uma natureza racional. O Ser infinito necessariamente quer e age de acordo com a perfeição absoluta de sua natureza, todavia com a mais alta liberdade. Os anjos necessariamente querem e agem de acordo com a perfeição de suas naturezas, todavia com completa liberdade; porque este tipo de necessidade está tão longe de interferir na liberdade da vontade, que a perfeição da liberdade da vontade descansa em tal necessidade. A própria essência de sua liberdade descansa em agir conscientemente, escolhendo ou rejeitando sem qualquer compulsão ou restrição externa, mas de acordo com princípios internos de apreensão racional e disposição natural”. [5]
Assim, os Arminianos e os Calvinistas diferem sobre suas condições qualificatórias do que constitui um livre-arbítrio. Os Calvinistas crêem que o homem é livre e agir de acordo com sua natureza. Os Arminianos, com suas origens Pelagianas que negam a depravação moral, crêem que a vontade pode fazer escolhas que sejam completamente não contaminadas por sua natureza e, assim, ter um “livre-arbítrio”. Em contraste, os Calvinistas crêem que o homem é um agente livre – livre para agir de acordo com sua própria natureza.
Livre agência não deve ser confundida com “livre-arbítrio”. Por causa da queda, os homem perderam sua capacidade – a vontade – de obedecer a Deus, mas eles são da mesma forma responsáveis para com Deus de obedecer perfeitamente os Seus mandamentos. Dessa forma, Spurgeon pôde dizer: “Eu temo mais do que qualquer coisa, o você ser deixado ao seu próprio livre-arbítrio”. O Arminianismo, ao lado do hiper-Calvinismo, argui que os pecadores não podem ser obrigados a fazer o que eles não são capazes de fazer, a saber, crer em Cristo para salvação, visto que a capacidade para crer pertence somente aos eleitos e é dada somente num tempo determinado pelo Espírito de Deus. Eles dizem: “Porque um pregador chamar seus ouvintes ao arrependimento imediato e fé, é negar tanto a depravação humana como a graça soberana”. Assim eles dizem.
Spurgeon diz o seguinte sobre as implicações do livre-arbítrio:
De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem?
Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: "Eu quero" ou "Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule Seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não".
Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não de pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos 9:16). [6]
A missão de nosso Senhor não era salvar todos a quem Ele se dirigia; era salvar dentre eles todos quanto o Pai havia lhe dado: “Todo o que o Pai me dá, virá a mim” (João 6:37).
Oh inconverso, sua vontade não está posta sobre o que determina sua esperança – a vontade não pode colocar a si mesma em liberdade. Somente Deus pode colocar o prisioneiro em liberdade.
NOTAS:
[5] - Robert Shaw, An Exposition of the Westminster Confession of Faith (Scotland: Christian Focus Publications, 1992) 116
[6] - Como citado no Evangelical Times, Abril de 1996
Extraído e traduzido do livro A Vontade de Deus, a Vontade do Homem e o Livre-Arbítrio, Capítulo 3.
por Ernest C. Reisinger
Nos últimos dois capítulos temos considerado o livre-arbítrio e o quádruplo estado do homem. Um breve sumário será útil a medida que continuarmos:
1. O homem, em seu estado de inocência, tinha liberdade e poder para desejar e fazer o que era bom e agradável a Deus; mas aquele estado era mutável, ou sujeito à mudança, de forma que o homem era capaz de cair dele.
2. O homem, por sua queda num estado de pecado, perdeu inteiramente a capacidade de desejar qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; portanto, como um homem natural, sendo totalmente adverso àquele bem, e morto em pecado, ele não é capaz, por sua própria força, de se converter e preparar para salvação.
3. Quando Deus converte um pecador, e o translada para o estado de graça, Ele o livra de sua escravidão natural ao pecado, e por Sua graça somente o capacita livremente a desejar e fazer o que é espiritualmente bom; todavia, em razão de sua corrupção remanescente, ele também desejar o que é mal.
4. A vontade de homem é feita perfeita e imutavelmente livre para fazer o bem somente no estado de glória somente. Qualquer estudo da vontade do homem é incompleto sem alguma explicação da diferença entre livre-arbítrio e livre agência. Estou usado a palavra livre significando “independente, soberana, autônoma”, isto é, “não sujeita ao governo ou controle de outro”.
Um agente é “alguém age, realiza um ato, ou tem poder para agir – uma força em movimento”.
O homem é um agente moral livre, mas ele não tem um livre-arbítrio. O homem é somente livre para agir de acordo com sua natureza, e o mesmo nasce com uma natureza pecaminosa (veja Salmos 51:5);
Alguém não perseguiu muito o estudo do livre-arbítrio e da livre agência até que ele dê de frente com uma aparente contradição (note bem, eu disse “aparente”). Devemos, com toda candidez, reconhecer esta aparente contradição. Ela merece algumas sérias e pensadas considerações. Por exemplo, devemos falar sobre os mandamentos de Deus e a inabilidade do homem – a soberania de Deus e a responsabilidade do homem.
Os Mandamentos de Deus e a Inabilidade do Homem
A ordem do evangelho – “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” – é endereçada pela autoridade divina a toda criatura e, portanto, é o dever de todo homem a obedecer. Há alguns que negam isto sob o fundamento de que o homem não tem a capacidade espiritual de crer em Jesus. Contudo, é totalmente um erro imaginar que a medida da capacidade moral do pecador é a medida de seu dever.
Há muitas coisas que o homem deve fazer, as quais agora ele não tem o poder moral e espiritual (embora não o físico) para fazer. Um homem deve ser casto; mas se ele tem sido por muito tempo tão imoral que não possa reprimir suas paixões, ele não está, portanto, livre da obrigação. É o dever de um devedor pagar as suas dívidas; mas se ele tem sido tão perdulário que trouxe a si mesmo a uma pobreza sem esperança, ele não está exonerado de suas dívidas por causa de sua inabilidade de pagar.
Todo homem deve crer no que é verdadeiro, mas se sua mente se tornou tão depravada que ele ama a mentira e não deseja receber a verdade, então, está ele escusado?
Se a lei de Deus tivesse que ser rebaixada de acordo com a condição moral dos pecadores, teríamos uma lei graduada por uma tabela variável para se adaptar aos graus da pecaminosidade humana. De fato, o pior homem deveria estar sob a menor lei e tornar-se, conseqüentemente, o menos culpado. Os requerimentos de Deus seriam de uma quantidade variável, e, na verdade, não estaríamos debaixo de regra alguma.
O mandamento de Cristo permanece bom, não obstante quão maus os homens possam ser; e quando Ele ordena que todos os homens em todo o lugar se arrependam, eles são requeridos a se arrependerem, tanto se sua pecaminosidade torna impossível para eles agir voluntariamente assim, ou não. Em todo caso, é o dever do homem fazer o que Deus o ordena.
Mas, alguém pode perguntar, como pode uma pessoa ser um agente livre e responsável se suas ações foram pré-ordenadas desde a eternidade? Novamente, um agente livre e responsável significa uma pessoa inteligente que age com autodeterminação racional. Pré-ordenação significa que desde a eternidade passada Deus fez certo o curso real dos eventos que ocorrem na vida de cada pessoa e no reino da natureza.
É importante notar de início que a verdadeira solução desta questão difícil com respeito à soberania de Deus e a liberdade do homem, não deve ser encontrada na negação da soberania de Deus; nem deve ser encontrada na negação da responsabilidade do homem. O mesmo Deus que ordenou os eventos, ordenou a liberdade e a responsabilidade humana no meio destes eventos. A Bíblia ensina que da mesma forma com é importante afirmar a verdadeira validade dos agentes secundários (homem), é importante afirmar a validade última da causa final (Deus).
Alguém pode prontamente ver que temos como solução o fatalismo por um lado, ou o plano e propósito inteligente de um Deus todo-poderoso e pessoal, do outro. A Bíblia claramente ensina que Deus tem um plano e Ele tem a sabedoria e o poder para executar esse plano.
O Pelagianismo nega a depravação humana, a necessidade da graça eficaz e exalta a vontade humana acima da vontade divina. Os Pelagianos não crêem na imputação do pecado de Adão. Negando a pecaminosidade do homem, o Pelagianismo exalta a vontade de homem e abre a porta da crença Arminiana de que o homem livremente, por si mesmo, escolhe a Deus. Portanto, o Pelagianismo é a mão do Arminianismo; de fato, o “Arminianismo” pode se encontrado doze séculos antes de Arminius nascer.
Uma citação da Exposição da Confissão de Fé de Westminster, de Robert Shaw, colocará a visão Arminiana e Calvinista sobre o livre-arbítrio em perspectiva:
A decisão da maioria dos pontos entre controvérsia, entre Calvinistas e Arminianos, como o Presidente Edwards observou, depende da determinação da questão – Em que consiste aquela liberdade da vontade que é requerida pela agência moral?
De acordo com os Arminianos três coisas pertencem a liberdade da vontade: - 1. Que a vontade tem um poder auto-determinante , ou uma certa soberania sobre si mesma, e sobre seus próprios atos, pelo qual ela determina suas próprias volições. 2. Um estado de indiferença, ou de equilíbrio, segundo o qual a vontade não possui qualquer propensão antecedente, e inteiramente livre de qualquer inclinação atrativa para um lado ou outro. 3. Que a volição, ou atos da vontade, são contingentes, não somente em oposição a toda restrição, mas a toda necessidade, ou a qualquer ligação fixa e certa com algum prévio fundamento ou razão de sua existência. Os Calvinistas, por outro lado, sustentam que um poder na vontade para determinar suas próprias determinações é desprovido de significado, ou se suposto, é contrário aos primeiros princípios da filosofia: algo acontecer sem uma causa; a idéia da alma exercer uma ação de escolha de preferência, enquanto, ao mesmo tempo, a vontade está em perfeito equilíbrio, ou estado de indiferença, está repleta de absurdos e auto-contradições; e, como nada pode acontecer sem uma causa, os atos da vontade nunca são contingente, ou sem necessidade – entendimento por necessidade, uma necessidade de conseqüência, ou uma ligação infalível com algo precedente.
De acordo com os Calvinistas, a liberdade de um agente moral consiste no poder de agir de acordo com sua escolha; e aqueles ações são livres quando são realizadas sem qualquer compulsão ou restrição externa, em conseqüência da determinação de sua própria mente. “A necessidade do desejo e da atuação do homem em conformidade com suas apreensões e disposição, é, na opinião deles, completamente consistente com todas a liberdade que pode pertencer a uma natureza racional. O Ser infinito necessariamente quer e age de acordo com a perfeição absoluta de sua natureza, todavia com a mais alta liberdade. Os anjos necessariamente querem e agem de acordo com a perfeição de suas naturezas, todavia com completa liberdade; porque este tipo de necessidade está tão longe de interferir na liberdade da vontade, que a perfeição da liberdade da vontade descansa em tal necessidade. A própria essência de sua liberdade descansa em agir conscientemente, escolhendo ou rejeitando sem qualquer compulsão ou restrição externa, mas de acordo com princípios internos de apreensão racional e disposição natural”. [5]
Assim, os Arminianos e os Calvinistas diferem sobre suas condições qualificatórias do que constitui um livre-arbítrio. Os Calvinistas crêem que o homem é livre e agir de acordo com sua natureza. Os Arminianos, com suas origens Pelagianas que negam a depravação moral, crêem que a vontade pode fazer escolhas que sejam completamente não contaminadas por sua natureza e, assim, ter um “livre-arbítrio”. Em contraste, os Calvinistas crêem que o homem é um agente livre – livre para agir de acordo com sua própria natureza.
Livre agência não deve ser confundida com “livre-arbítrio”. Por causa da queda, os homem perderam sua capacidade – a vontade – de obedecer a Deus, mas eles são da mesma forma responsáveis para com Deus de obedecer perfeitamente os Seus mandamentos. Dessa forma, Spurgeon pôde dizer: “Eu temo mais do que qualquer coisa, o você ser deixado ao seu próprio livre-arbítrio”. O Arminianismo, ao lado do hiper-Calvinismo, argui que os pecadores não podem ser obrigados a fazer o que eles não são capazes de fazer, a saber, crer em Cristo para salvação, visto que a capacidade para crer pertence somente aos eleitos e é dada somente num tempo determinado pelo Espírito de Deus. Eles dizem: “Porque um pregador chamar seus ouvintes ao arrependimento imediato e fé, é negar tanto a depravação humana como a graça soberana”. Assim eles dizem.
Spurgeon diz o seguinte sobre as implicações do livre-arbítrio:
De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem?
Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: "Eu quero" ou "Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule Seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não".
Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não de pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos 9:16). [6]
A missão de nosso Senhor não era salvar todos a quem Ele se dirigia; era salvar dentre eles todos quanto o Pai havia lhe dado: “Todo o que o Pai me dá, virá a mim” (João 6:37).
Oh inconverso, sua vontade não está posta sobre o que determina sua esperança – a vontade não pode colocar a si mesma em liberdade. Somente Deus pode colocar o prisioneiro em liberdade.
NOTAS:
[5] - Robert Shaw, An Exposition of the Westminster Confession of Faith (Scotland: Christian Focus Publications, 1992) 116
[6] - Como citado no Evangelical Times, Abril de 1996
Extraído e traduzido do livro A Vontade de Deus, a Vontade do Homem e o Livre-Arbítrio, Capítulo 3.
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